Como conversar com uma criança autista sem errar

Aprender a reparar a falha reduz estresse, fortalece vínculos e melhora a comunicação no dia a dia

Errar acontece. Antes de tudo, quando o equívoco envolve uma criança autista, a forma de reparar faz toda a diferença. Assim, a correção de rota precisa ser clara, previsível e respeitosa. Desse modo, o adulto reduz a ansiedade, restabelece confiança e mantém o diálogo aberto. Além disso, reconhecer o erro com objetividade protege o vínculo e cria um modelo positivo de convivência.

Por que reparar o erro importa

Em primeiro lugar, admitir o erro sem rodeios ensina segurança e previsibilidade. Dizer “eu me enganei” ou “falei rápido demais” mostra que falhas têm conserto. Depois, regular o próprio corpo — voz serena, postura aberta e pausas — favorece a regulação emocional. Consequentemente, a chance de escalada de conflitos diminui. Por outro lado, explicações longas e tom elevado aumentam a sobrecarga sensorial e atrapalham a conversa.

O que dizer, passo a passo

Primeiro, descreva o fato sem julgamento: “Prometi brincar depois do lanche e não cumpri”. Em seguida, valide o sentimento: “Entendo que você ficou chateado”. Depois, faça o reparo: “Agora vou cumprir o combinado por 10 minutos”. Por fim, previna repetição: “Da próxima vez vou usar um alarme”. Frases curtas e previsíveis constroem comunicação assertiva. Se necessário, ofereça escolhas fechadas (“quebra-cabeça ou desenho?”). Assim, você reduz a carga cognitiva e facilita a resposta.

Ajuste o ambiente sensorial

Frequentemente, as rupturas decorrem de barulho, luz intensa ou cheiros. Portanto, antes de conversar, reduza estímulos: baixe a iluminação, afaste-se do tumulto, ofereça fones abafadores. Além disso, sente-se ao nível dos olhos e mantenha distância confortável. Caso a crise persista, priorize acolhimento silencioso, respiração guiada e água. Depois, retome o diálogo com passos visuais simples.

Apoios que facilitam o acerto

De modo geral, crianças no espectro se beneficiam de apoio visual: rotinas com figuras, cartões “sim/não”, temporizadores e pictogramas para “esperar”, “pausa” e “voltar”. Nesses casos, o adulto precisa modelar o uso: mostre o cartão “desculpa”, a sequência “mudança de plano” e o temporizador contando o tempo. Além disso, crianças não falantes podem usar PECS, pranchas ou aplicativos (CAA/AAC). Com isso, o reparo fica concreto e observável.

A seguir, transforme o evento em aprendizado. Registre o que funcionou: local mais calmo, frase curta, desenho do passo a passo. Na escola e em casa, alinhe expectativas por escrito, defina horários com alarmes e antecipe mudanças (consulta, prova, passeio). Quando houver regras, ofereça previsibilidade: “Primeiro tarefa, depois tablet, por 15 minutos”. Dessa forma, a sequência explícita sustenta a inclusão social e reduz estresse.

Quando buscar apoio profissional

Se os conflitos se repetirem, procure avaliação especializada. Equipes com pediatria ou psiquiatria da infância, psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional orientam combinações de estratégias e ajustam o plano de comunicação. Em síntese, o objetivo é reduzir crises, ampliar autonomia e qualificar o convívio familiar.

Fontes consultadas:
Organização Mundial da Saúde (OMS) — Ficha informativa sobre autismo
Ministério da Saúde — Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com TEA
Ministério da Saúde — Linha de Cuidado: definição de TEA
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) — TEA: triagem e diagnóstico
CDC — Autism Spectrum Disorder (ASD)
NICE — Autism in under 19s: support and management

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