Rotina, suporte profissional e adaptações sensoriais reduzem recusa de alimentos e melhoram a nutrição da família inteira
A seletividade alimentar no autismo é comum e pode gerar preocupação com peso, crescimento e micronutrientes. Em muitos casos, a criança aceita poucos alimentos, restringe cores, texturas ou marcas e rejeita preparos novos. Embora o quadro assuste, a boa notícia é que intervenções simples em casa, associadas a acompanhamento especializado, costumam ampliar o repertório alimentar com segurança e sem traumas.
Por que acontece e como observar sem culpas
No TEA, diferenças sensoriais e de processamento motor oral explicam parte da seletividade alimentar no autismo. Alguns pequenos sentem a textura de forma amplificada; outros têm dificuldade de mastigar e coordenar deglutição, o que aumenta a recusa. Portanto, observe padrões — horários de maior aceitação, formatos preferidos (tiras, cubos, purês), temperaturas e utensílios. Registre tudo por uma semana: esse diário orienta decisões e ajuda profissionais a personalizar o plano. Além disso, evite rótulos do tipo “come mal”. Troque por descrições objetivas (“aceita três frutas: banana, maçã, mamão”). Assim, a família foca em metas realistas.
Como ampliar o cardápio com rotina e pequenas exposições
Comece pela rotina alimentar previsível: defina 3 refeições principais e 2 lanches, com horários fixos. Em seguida, adote a “regra do 1 a mais”: a cada refeição, apresente 1 alimento aceito, 1 semelhante (mesma cor ou textura) e 1 novidade em porção mínima. Ofereça o novo alimento no mesmo prato, porém sem pressionar. Mostre, nomeie e permita que a criança cheire e toque antes de provar. Varie lentamente: mude primeiro o formato (palito em vez de cubo), depois a textura (purê a amassado) e, por último, o tempero. Consequentemente, a ansiedade cai e a disposição para experimentar aumenta. Por fim, comemore microconquistas — cheirar já é progresso.
Ambiente sensorial a favor e divisão de responsabilidades
Organize o espaço para reduzir sobrecarga: mesa estável, ruído menor, cheiro suave e luz indireta. Ajuste a cadeira para pés apoiados e tronco alinhado, o que favorece mastigação e deglutição. Utilize talheres menores e copos com bico ou canudo, conforme orientação da terapia ocupacional e da fonoaudiologia. Aplique a “divisão de responsabilidades”: o adulto decide o que, quando e onde servir; a criança decide se e quanto comer. Dessa forma, você evita barganhas e punições, que tendem a piorar a recusa.
Quando buscar suporte e como medir evolução
Procure fonoaudiologia para avaliar motricidade orofacial e sensibilidade oral; busque terapia ocupacional para trabalhar integração sensorial e postura; consulte nutrição para assegurar variedade e micronutrientes. Em quadros de perda ponderal, constipação, vômitos frequentes ou risco nutricional, o acompanhamento médico torna-se indispensável. Meça evolução por indicadores simples: número de alimentos aceitos, variedade por grupo (frutas, legumes, proteínas), novos formatos tolerados e redução de choro ou escape da mesa. Logo, o foco sai do “comer tudo” e migra para progresso consistente.
Fontes consultadas:
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Ministério da Saúde — Linha de Cuidado TEA
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
National Institute for Health and Care Excellence (NICE)